Onde as tarifas mais doem

📉 Magalu sofre com os juros | 🛒 Assaí pena com a inflação

Alexandre Versignassi

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O impacto das tarifas onde elas doem mais: no bolso dos comerciantes  

Um drama à la Romeu e Julieta: fornecedores chineses e importadores americanos se amavam. Queriam continuar juntos, mas acabaram num fogo cruzado maior do que eles. Com a escalada da guerra comercial entre China e Estados Unidos, empresas dos dois países já cancelaram bilhões de dólares em contratos.

  • Resultado: na China, algumas fábricas já estão demitindo ou colocando os funcionários em licença não remunerada. E tentam se livrar dos estoques encalhados. É o caso de uma fábrica de roupas femininas em Shenzhen, que tem feito lives com promoções para vender 180 mil peças agora órfãs.

  • A China é o segundo maior fornecedor dos Estados Unidos, atrás só do México. Em 2024, os americanos importaram US$ 439 bilhões em produtos chineses.

  • Um bom sinal para os negócios: depois do olho-por-olho tarifário, Pequim e Washington parecem estar prontos para conversar. No fim de semana, representantes dos dois governos se reunirão na Suíça para uma primeira negociação. E Trump já se mostra menos irracional. Ele disse ontem: “Sabemos que [as tarifas para a China] vão diminuir”.

Hoje vamos falar sobre:

🇦🇷 A nova prioridade da Kepler Weber

📉 Magalu sofre com os juros

🛒 Assaí pena com a inflação

🍷 Envelheça como vinho

HIGHLIGHTS

📉 Magalu apanha dos juros

O lucro do Magazine Luiza caiu 54% no 1° trimestre, para R$ 12,8 milhões. Culpa dos juros alto, que complica a varejista em dose dupla: encarece as dívidas e afasta compradores de produtos de valor maior, tipo geladeiras e eletrônicos, que costumam ser parcelados. 

🏦 O rato não roeu o ROE

No Itaú, o lucro foi de R$ 11,1 bilhões no trimestre, alta de 14%. O retorno sobre o patrimônio líquido ficou em 22,5%. Essa métrica, o ROE, mostra qual é a rentabilidade do banco na comparação com o patrimônio que pertence aos acionistas. Acima de 20% é considerado ótimo. 

🛒 O Assaí e a inflação

Mais uma da safra de balanços: o lucro do Assaí cresceu 74%, para R$ 162 milhões. Mas Belmiro Gomes, o CEO da rede, avisou que a inflação já impacta as vendas: especialmente no Nordeste, os consumidores estão escolhendo por marcas mais baratas e embalagens menores.

UMA IMAGEM

Foto: Getty Images

O petróleo deu um respiro ontem: alta de 2,9% com o barril a US$ 62,84. Cortesia das negociações iminentes entre os Estados Unidos e a China. Mas falta muito para o suco de dinossauro sair da baixa histórica. No ano, a queda é de 15%. Nos últimos 12 meses, de 25%. Vale notar que, hoje, o barril vale basicamente metade do que valia no último pico, em junho de 2022, quando operava acima dos US$ 120. Na imagem: perfuradores de uma plataforma de petróleo vistos por dentro, no Mar do Norte.

O MELHOR DO INVESTNEWS

Argentina, a nova prioridade da Kepler Weber

Corte de gastos, regras de importação mais flexíveis, inflação em queda. Com a economia entrando nos trilhos, a Argentina volta ao mapa das empresas brasileiras. Uma delas é Kepler Weber, que constrói armazéns para grãos. A empresa quer quadruplicar a receita no mercado argentino, transformando-o no seu terceiro maior, atrás do Brasil e do Paraguai.

  • Eles têm um novo incentivo para apostar no nosso vizinho de baixo: no ano passado, o governo de Milei criou um pacote de benefícios fiscais e cambiais para projetos a partir de US$ 200 milhões.

  • No Brasil, a Kepler Weber não tem colhido bons resultados. Com os preços da soja lá em baixo e os juros lá no alto, o apetite por investimentos minguou – e novos silos ficaram fora da lista de prioridades dos produtores. Aí o lucro da empresa caiu 51% no primeiro trimestre, para R$ 25,6 milhões.

Trump anuncia acordo comercial com o Reino Unido

Ontem, Donald Trump e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, firmaram um acordo comercial entre Estados Unidos e Reino Unido. É a primeira vitória das negociações americanas desde que Trump anunciou as tarifas universais, em 2 de abril. 

  • Na real, o pacto ainda não foi finalizado, muito menos detalhado publicamente. O que se sabe até agora: produtos americanos devem encarar menos burocracia para entrar na terra dos Beatles – e ganhar terreno nas exportações de etanol, carne e aço.

  • Ali do lado, a União Europeia ameaça tarifar mais de US$ 100 bilhões em produtos americanos se as negociações com os Estados Unidos desandarem.

Leia mais nesta reportagem do Wall Street Journal, em português.

UM NÚMERO

137.634 pontos

É o novo recorde nominal do Ibovespa, que foi atingido ontem. Ele supera por um trisco de 165 pontos a marca anterior, de 28 de agosto do ano passado.

  • Essa é a marca intraday, ou seja, rolou durante o pregão. No fechamento, o índice arrefeceu um pouco, para 136 mil pontos.

  • E sempre vale lembrar. Esses são valores nominais. Em valores reais, que levam em conta a inflação, o recorde do Ibovespa é de 2008. No dia 20 de maio daquele ano, o índice fechou em 73.517 pontos. Corrigindo pelo IPCA, que é como se faz nesses casos, isso equivale a 191 mil pontos de hoje. Em suma: o recorde, recorde mesmo, ainda está longe.    

UM GRÁFICO

Até outro dia, em 2019, a energia solar respondia por 2% da nossa matriz elétrica. Hoje, são 20%. Dependendo do horário do dia, muito mais. Quando o Sol está a pino, 40% da energia elétrica do país vem das placas fotovoltaicas

  • Quem virou o jogo foi aquilo que as autoridades do sistema elétrico chamam de “geração distribuída”. São as casas, empresas e propriedades agrícolas com painéis solares próprios, e que vendem seus excedentes para o sistema.

  • Sozinhas, essas placas avulsas somam uma capacidade de geração de energia equivalente a duas Itaipus – mais uns trocados. 

VALE PARAR PARA LER

👠 A semiótica da recessão 

As redes sociais estão se divertindo com uma trend nova: os “indicadores de recessão” alternativos dos Estados Unidos, como a volta da música eletrônica e dos tênis All Star de cano alto – populares na crise de 2008. Só que os dados contam outra história. Mercado de trabalho aquecido, consumo em alta e investimentos das empresas mostram que, apesar das perspectivas ruins, a economia americana segue bem.

OFF WORK

🍷 Envelheça como o vinho

Para finalizar, três dicas para envelhecer melhor. Elas estão no livro Super Agers, que o cardiologista americano Eric Topol lançou recentemente.

  • Levantar peso: uma hora de musculação por semana diminui os riscos de ataque cardíaco em 25%.

  • Dormir num horário fixo: sono regular e profundo previne AVCs e zela pela preservação da lucidez.

  • Ar livre: um estudo mostrou que basta meia hora por semana a céu aberto, num ambiente tranquilo, para mitigar os riscos de pressão alta – e de depressão. Já pro parque!  

É isso. Bom fim de semana!

Curadoria e textos: Camila Barros
Edição: Alexandre Versignassi
Design: João Brito