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A ‘Carajás africana’ que desafia o reinado da Vale
📦 Brasil, Vietnã e a caixa da Friboi | ⚓ A tentativa de reviver a indústria naval
Alexandre Versignassi
Ouça a versão em áudio:
Mina de Simandou: a ‘Carajás africana’ que desafia o reinado da Vale
Metade do minério de ferro da Vale sai da serra de Carajás, no Pará. E é a melhor metade, com 65% de ferro em sua composição – contra 62% do padrão global. Em 2024, a região produziu 177,5 milhões de toneladas de Fe65 (como se diz no jargão). Isso dá 44% da produção global. Hoje, nenhuma outra mina no mundo extrai tanto minério premium quanto Carajás – o que dá à Vale o poder de ditar o preço do Fe65 no mercado internacional. Mas isso deve mudar.
O complexo de Carajás tem um gêmeo ainda inexplorado: Simandou, na Guiné, costa oeste da África. Por lá, a capacidade é de produzir até 120 milhões de toneladas por ano de minério premium. A australiana Rio Tinto, que divide os direitos de exploração com um consórcio chinês, pretende iniciar os trabalhos até o fim deste ano.
Claro, ainda tem certo chão até que a mina esteja operando em plena capacidade. Mas, quando isso acontecer, a Vale terá pela primeira vez um concorrente à sua altura no mercado de Fe65.
Caso Simandou estivesse em operação hoje, ela seria responsável por 23% da produção global de minério premium, e reduziria a participação da Vale para 34%.
Hoje vamos falar sobre:
📦 Brasil, Vietnã e a caixa da Friboi
⚓ A tentativa de reviver a indústria naval brasileira
🌍 A hora e a vez das ações internacionais
⚖️ IOF: regulação ou arrecadação?
HIGHLIGHTS
🛢️ Os bonds da Prio
A Prio está nos ajustes finais para captar US$ 750 milhões no mercado internacional, com uma nova emissão de títulos de dívida. O dinheiro vai bancar a compra de 60% do campo de petróleo Peregrino, arrematado da norueguesa Equinor em maio, num negócio que pode chegar a US$ 3,5 bilhões. Esta será a segunda emissão global da petroleira – a primeira rolou em 2021, quando levantou US$ 600 milhões.
🤝 Mais 15 dias para a Invepar
Em 16 de junho, a holding de infraestrutura Invepar assinou um acordo com os credores para suspender o pagamento das dívidas por 15 dias. Esse prazo já venceu. Mas, como ninguém se opôs, o acordo foi automaticamente prorrogado por mais 15 dias. Desde meados de maio, a empresa vem tentando costurar uma solução com os credores para evitar pedir recuperação judicial.
🛣️ Debêntures da AutoBAn
Administradora do sistema Anhanguera-Bandeirantes e controlada pela Motiva (ex-CCR), a AutoBAn vai levantar R$ 2,5 bilhões em uma emissão de debêntures. O dinheiro será usado para pagar uma dívida antiga e cobrir gastos com projetos de infraestrutura. Ultimamente, a Motiva tem concentrado seus investimentos em rodovias – e busca vender todos os 20 aeroportos que opera.
UMA IMAGEM

Na foto: durante a Cúpula dos BRICS, no Rio, o presidente Lula entregou uma caixa da Friboi ao premiê do Vietnã, Pham Minh Chinh (Agência Brasil). Em troca, recebeu um pacote de tilápias. Foi um gesto em comemoração ao acordo que liberou a exportação de carne bovina brasileira ao Vietnã – e de tilápia vietnamita ao Brasil.
A carne brasileira estava barrada por lá desde 2017, após a Operação Carne Fraca, que revelou irregularidades sanitárias em frigoríficos no Brasil.
A JBS (dona da Friboi) fez o primeiro envio pós-embargo: no sábado, 27 toneladas deixaram a fábrica de Mozarlândia, em Goiás, rumo ao Vietnã.
O MELHOR DO INVESTNEWS
Margem Equatorial, Petrobras e China: a nova tentativa de reviver a indústria naval brasileira

No fim de semana, estaleiros do Brasil e da China assinaram acordos preliminares para, no futuro, desenvolverem projetos juntos. Esta é a nova estratégia para tentar reviver a indústria naval brasileira: atrair capital chinês para bancar a construção de embarcações para a Petrobras. A ideia é que, com o avanço da exploração na Margem Equatorial, aumente a demanda da petroleira por plataformas, sondas e navios de apoio.
Reviver a indústria naval já é uma velha promessa dos governos Lula. Em 2006, a coisa ganhou corpo com a descoberta do pré-sal. Na época, o governo criou estaleiros do zero, ofereceu crédito barato via BNDES e exigiu que parte das encomendas da Petrobras fosse feita no Brasil.
Mas não deu certo. No ano passado, o maior símbolo desse fracasso se concretizou: a Sete Brasil, criada em 2010 para fornecer sondas de perfuração ao pré-sal, teve sua falência decretada após acumular uma dívida de R$ 36 bilhões. Das 28 sondas prometidas no início, quatro foram entregues – e apenas parcialmente.
Leia mais nesta reportagem de Sérgio Tauhata.

Em Wall Street, chegou a vez das ações internacionais
Normalmente, os investidores americanos nem precisam olhar para fora dos EUA. Afinal, as ações locais costumam render bem mais que as internacionais. Entre 2010 e 2024, quem investiu em papéis americanos ganhou, em média, 13,5% ao ano. Já as ações de fora renderam 4,8%.
Só que, pela primeira vez desde a crise de 2008, o mercado americano ficou para trás. No primeiro semestre de 2025, as ações de lá subiram 5,6%, em média – contra 18,2% das de fora.
Por isso, as gestoras têm recomendado reduzir a aposta nos EUA e ampliar a exposição global. Em março, o Citi deixou de ver os papéis americanos como “overweight” – ou seja, quando se espera que eles desempenhem acima da média. Agora, passou a tratá-los como “neutros”. Já a Fidelity aumentou sua exposição a ações internacionais para 45%, contra 40% antes.
Isso, aliás, ajuda a explicar o desempenho do Ibovespa até aqui. No ano, o índice acumula alta de quase 18% – turbinado pelos R$ 27 bilhões que entraram na bolsa via investidores estrangeiros.
Leia mais nesta reportagem do Wall Street Journal, em português.
UM NÚMERO
4,2%
É a participação da indústria extrativa, que inclui mineração e petróleo, no PIB do Brasil atualmente. Seis vezes mais do que há 30 anos.
Tem a ver com dois temas que já tratamos aqui hoje: o crescimento das exportações de minério de ferro – em especial, para a China – e o desenvolvimento da indústria de petróleo após a descoberta do pré-sal, nos anos 2000.
Na contramão, dois outros ramos da indústria perderam espaço. A construção caiu de 7% do PIB em 1995 para 3,6% em 2024. Já a indústria de transformação recuou de 16,8% para 14,4% nesse período.
UMA FRASE
“Acho que nós temos condição de mostrar que [o aumento do IOF] não é para fins arrecadatórios, muito embora tenha uma consequência arrecadatória.”
VALE PARAR PARA LER
🌾 A próxima safra
Apesar da previsão de safra recorde para soja e milho, quem deve sair ganhando mesmo na temporada 2025/26 são os produtores de proteína animal. Segundo relatório do Itaú BBA, os custos de produção – especialmente com fertilizantes – devem subir, pressionando as margens dos agricultores. Já os criadores de bovinos, aves e suínos, tendem a se beneficiar com a demanda aquecida aqui e lá fora.
É isso. Boa semana!
Curadoria e textos: Camila Barros
Edição: Alexandre Versignassi
Design: João Brito
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